2025: Guia para Autistas de Nível Leve: Esclarecendo Dúvidas sobre o Direito aos Benefícios e o Uso da CIPTEA

Entenda se autistas de nível leve têm direito aos benefícios assistenciais, sociais e de transporte. Este artigo aborda a validade do laudo médico versus a CIPTEA e explica as regras para o uso de vagas de estacionamento, tirando as dúvidas mais frequentes da comunidade autista em 2025.

Introdução

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição de desenvolvimento que se manifesta de forma única em cada indivíduo. A ciência e a medicina categorizam o TEA em diferentes níveis de suporte (níveis 1, 2 e 3) para fins clínicos e terapêuticos. No entanto, na legislação brasileira, essa categorização não pode ser usada para negar direitos. Uma das dúvidas mais persistentes e geradoras de insegurança nas comunidades de pais e pessoas com autismo é justamente se autistas de nível leve (Nível 1 de Suporte, segundo o DSM-5) têm direito aos benefícios sociais, assistenciais e de inclusão.

A complexidade da legislação, a falta de informação e as barreiras burocráticas muitas vezes levam famílias a acreditar que, por se tratar de um autismo “leve”, seus direitos são menores ou inexistentes. A verdade é que a lei não faz essa distinção. A Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764/2012) e o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) reconhecem o autismo como deficiência para todos os efeitos legais, sem segmentação por grau de suporte.

Este artigo foi elaborado para responder a essas e outras perguntas frequentes, esclarecendo se autistas de nível leve têm direito aos benefícios, a importância do laudo médico e da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA), e como usar as vagas de estacionamento reservadas, com exemplos práticos e detalhados.


Autistas de Nível Leve Têm Direito aos Benefícios?

A resposta para essa pergunta é um categórico sim. A legislação brasileira, em especial a Lei Berenice Piana, não estabelece uma hierarquia de direitos com base no nível de suporte do TEA. O autismo, independentemente do nível, é considerado uma deficiência. Portanto, todos os direitos e benefícios concedidos a pessoas com deficiência se aplicam às pessoas com TEA.

O que diferencia a concessão de um benefício ou de uma vaga de estacionamento não é o “nível leve”, mas a comprovação da condição e, em alguns casos, o atendimento aos requisitos específicos de cada benefício (como o critério de renda para o BPC/LOAS, por exemplo).

Exemplos de Benefícios Acessíveis a Autistas de Nível Leve

  • Passe Livre Intermunicipal e Interestadual: Este benefício, que garante a gratuidade em transportes coletivos, pode ser solicitado por pessoas com TEA, desde que a renda familiar seja de até um salário mínimo per capita. A condição de deficiência do autismo, mesmo de nível leve, é suficiente para a comprovação, desde que o laudo médico ateste a condição.
  • Isenção de Impostos na Compra de Veículos (IPVA, IPI, ICMS): O direito aos benefícios de isenção tributária para a compra de veículos, como já abordado em outro artigo, não faz distinção por nível de suporte. O que importa é a comprovação do TEA por laudo médico e o atendimento aos demais requisitos da Receita Federal e da Secretaria da Fazenda.
  • Meia-Entrada em Eventos Culturais: A Lei Federal nº 12.933/2013 garante o direito à meia-entrada para pessoas com deficiência e seus acompanhantes, incluindo autistas de nível leve. A comprovação pode ser feita com a CIPTEA, o laudo médico ou outros documentos que atestem a condição.
  • Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS): Para ter o direito aos benefícios do BPC, o autista de nível leve deve comprovar a condição de deficiência e, crucialmente, a situação de vulnerabilidade financeira, com a renda familiar per capita de até 1/4 do salário mínimo. O nível de suporte não é um critério de exclusão para o BPC. A perícia do INSS irá avaliar o grau de impedimento de longo prazo causado pelo autismo na vida do requerente, e um autista de nível leve pode, sim, ser considerado incapaz de prover o próprio sustento devido a limitações de comunicação, interação social e outros fatores.

Exemplo Prático: Uma jovem adulta com autismo de nível leve tem grande dificuldade para se manter em empregos formais devido a questões de comunicação e sensibilidade a ambientes barulhentos. A renda de sua família é baixa e se enquadra nos critérios do BPC. Mesmo sendo considerada “leve”, a jovem tem seu direito aos benefícios assistenciais reconhecido, pois a condição de deficiência, em interação com as barreiras sociais e financeiras, impede sua plena participação no mercado de trabalho.


O que serve mais: CIPTEA ou o Laudo Médico?

O que serve mais: CIPTEA ou o Laudo Médico?

Essa é outra dúvida recorrente que merece atenção. O laudo médico e a CIPTEA têm finalidades complementares, mas não se substituem totalmente.

  • O Laudo Médico: É a prova mais fundamental e essencial da condição de TEA. O laudo médico, emitido por um profissional de saúde, é a base de todo o processo de acesso aos direitos. É com o laudo que se solicita a CIPTEA, a isenção de impostos, o passe livre e outros benefícios. O laudo deve ser completo, detalhando o diagnóstico, o CID e as limitações funcionais.
  • A CIPTEA (Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista): A CIPTEA é um documento oficial que facilita a identificação da pessoa com autismo. Ela foi criada para agilizar o acesso a direitos e benefícios, evitando a necessidade de andar com o laudo médico em todos os lugares. A CIPTEA é válida em todo o território nacional.

Qual a Melhor Opção?

O laudo médico é a base de tudo, e a CIPTEA é um instrumento de facilitação. Para a maioria dos serviços e benefícios cotidianos (como fila preferencial, meia-entrada, vagas de estacionamento), a CIPTEA é suficiente e mais prática. Já para processos burocráticos e que exigem comprovação detalhada (como a solicitação de BPC, isenção de impostos ou a matrícula em escolas), o laudo médico, por sua riqueza de informações, continua sendo o documento principal.

Exemplo Prático: Uma mãe leva seu filho autista de nível leve a um parque de diversões. Para usar a fila preferencial, ela pode apresentar a CIPTEA. Mas, se essa mesma mãe for solicitar a isenção de ICMS na compra de um carro, ela precisará apresentar o laudo médico completo, que detalha a condição e suas limitações, para que a autoridade fiscal analise o pedido. Ambos os documentos são importantes para garantir o pleno direito aos benefícios e a inclusão.


Como Usar Vagas de Estacionamento: Regras e Praticidade

Como Usar Vagas de Estacionamento: Regras e Praticidade

O uso de vagas de estacionamento reservadas para pessoas com deficiência é um direito garantido por lei. Para as pessoas com autismo, esse direito também se aplica, independentemente do nível de suporte. No entanto, as regras de uso podem variar de acordo com o município ou estado.

Documentos Necessários para o Uso

A forma correta de usar a vaga de estacionamento não é apenas colocar o carro na vaga e pronto. É necessário ter a credencial de estacionamento, um cartão específico que deve ser colocado no painel do veículo, de forma visível, para que a fiscalização possa identificar o direito ao uso.

A credencial de estacionamento é emitida pelo órgão de trânsito municipal (ou estadual, em alguns casos) e geralmente requer os seguintes documentos:

  1. Laudo Médico ou a Carteira de Identificação da Pessoa com Deficiência.
  2. Documentos de Identificação do requerente (com autismo) e do responsável.
  3. Comprovante de Residência.

O direito aos benefícios de vagas de estacionamento é assegurado por lei, mas o uso da credencial é fundamental para evitar multas.

Exemplo Prático: O pai de um adolescente com autismo de nível leve, que tem dificuldade com estímulos sensoriais e se desorganiza em locais com aglomeração, solicita a credencial de estacionamento junto à prefeitura de sua cidade. Ele apresenta o laudo médico e os documentos solicitados. Com a credencial, ele pode estacionar nas vagas reservadas, garantindo mais segurança e menos estresse para o filho ao sair do carro. Se ele estacionasse sem a credencial, mesmo com o laudo em mãos, ele poderia ser multado, pois a credencial é a prova de que ele tem o direito de usar aquela vaga específica.


Considerações Finais e Desafios para Autistas de Nível Leve

Embora a lei não diferencie os níveis de suporte, na prática, a realidade pode ser diferente. Muitas vezes, autistas de nível leve enfrentam o “capacitismo invisível”, onde suas dificuldades são subestimadas ou desconsideradas por não serem tão evidentes. Isso pode levar à negação de um tratamento, de uma vaga de estacionamento ou de outros benefícios.

É por isso que a informação é a principal ferramenta. Conhecer a legislação, ter um laudo médico detalhado e, se possível, a CIPTEA, são passos essenciais para garantir que o direito aos benefícios seja respeitado.

  • Comunicação: É fundamental que os pais e as pessoas com TEA se comuniquem com clareza sobre suas necessidades. Um bom diálogo com a escola, com o médico e com os órgãos públicos pode resolver muitos problemas.
  • Judicialização: Em caso de negativa, a judicialização é um caminho. A jurisprudência brasileira é forte em defender o direito de todos os autistas de nível leve, reforçando que a lei não faz distinções.
  • Documentação: Mantenha todos os laudos, relatórios e documentos organizados e atualizados. A burocracia pode ser um obstáculo, mas a documentação completa é a melhor forma de superá-la.

O direito aos benefícios é uma conquista social que visa garantir a inclusão plena e a autonomia das pessoas com deficiência. Para os autistas de nível leve, esse direito é uma garantia de que, mesmo com as dificuldades menos visíveis, suas necessidades serão reconhecidas e atendidas, promovendo uma vida mais digna e com mais oportunidades. A luta por um direito aos benefícios é a luta por uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.

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Juliana Barreto

advogada

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